quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

25 de Abril, 25 poemas

Na terceira sessão dos poemas de abril, o professor António Domingos deu o mote e o Gonçalo Castro, do 10.ºGD, recriou a leitura e desenvolveu um verdadeiro rap aplaudido por todos. Parabéns!!!
 

 

 

As mãos
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre, "O canto e as armas"

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

25 de Abril, 25 poemas

 

Na segunda sessão dos poemas de abril, o professor António Domingos voltou a irromper pelas salas da Secundária, com o poema "Preso Político", de Fernando Assis Pacheco. "Olha bem que farás da liberdade: quando saíres, amigo, não me esqueças."


 

"Preso político

1

Quiseram pôr-me inteiro numa ficha.
O dia e a noite são iguais por dentro.
Não há papel que conte a minha vida
mais que estes versos de punhal à cinta.
A barba cresce, e cresce a voz armada
descendo pelos muros tão tranquila;
tão tranquila que já nem desespera
de ser apenas voz, não uma guerra.

Quiseram pôr-me inteiro numa ficha.
Não há papel que conte a minha vida.
Mais que estes versos, esta mão estendida
por sobre os muros só de medo e pedra.

2

Quando saíres, amigo, não me esqueças.
Fico à espera da tua novidade.
Olha bem que farás da liberdade:
quando saíres, amigo, não me esqueças.

Quero mais fazimento que promessas.
São de prata os enganos da cidade
com que outros sujeitam a vontade.
Não me esqueças, amigo, não me esqueças."

1966