quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

25 de Abril, 25 poemas


 As bibliotecas do Agrupamento António Nobre deram início, no dia 13 de dezembro, na Escola Secundária, a mais uma iniciativa poética, que está a acontecer também nas escolas básicas da Areosa e Nicolau Nasoni, com a colaboração do professor António Domingos. 

Respondendo ao desafio lançado pelo Grupo Disciplinar de História, no âmbito da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, todas as semanas será divulgado um poema que tenha por tema a liberdade. Serão ao todo vinte e cinco poemas, e o primeiro foi “Ar livre” de Miguel Torga.

As turmas tiveram a visita inesperada do professor, que, depois de, sem aviso prévio, ler o referido poema, fez uma breve apresentação do projeto alertando para a necessidade de não deixar esquecer a importância do acontecimento histórico, sem o qual uma iniciativa como esta não seria possível…

 


 

"Ar livre 

Ar livre, que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarela!

Ar livre, digo-vos eu!
Ou estamos nalgum museu
De manequins de cartão?
Abaixo! E ninguém se importe!
Antes o caos que a morte...
De par em par, pois então?!

Ar livre! Correntes de ar
Por toda a casa empestada!
(Vendavais na terra inteira,
A própria dor arejada,
- E nós nesta borralheira
De estufa calafetada!)

Ar livre! Que ninguém canta
Com a corda na garganta,
Tolhido da inspiração!
Ar livre, como se tem
Fora do ventre da mãe
Desligado do cordão!

Ar livre, sem restrições!
Ou há pulmões,
Ou não há!
Fechem as outras riquezas,
Mas tenham fartas as mesas
Do ar que a vida nos dá!"
 

Miguel Torga, Cântico do Homem, 1950

 



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