segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024
Poema do mês
Todas as cartas de amor são
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024
Passaporte literário
Esta atividade consistiu na leitura de um livro por cada um dos alunos da turma 8As, à sua escolha, e de acordo com a faixa etária, no âmbito da disciplina de Português. Posteriormente, cada elemento da turma preencheu os dados que constam do seu passaporte literário.
Os passaportes encontram-se expostos na biblioteca da Escola Secundária António Nobre juntamente com os respetivos livros.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2024
25 de Abril, 25 poemas
As mãos
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre, "O canto e as armas"
quarta-feira, 10 de janeiro de 2024
25 de Abril, 25 poemas
Na segunda sessão dos poemas de abril, o professor António Domingos voltou a irromper pelas salas da Secundária, com o poema "Preso Político", de Fernando Assis Pacheco. "Olha bem que farás da liberdade: quando saíres, amigo, não me esqueças."
"Preso político
Quiseram pôr-me inteiro numa ficha.
O dia e a noite são iguais por dentro.
Não há papel que conte a minha vida
mais que estes versos de punhal à cinta.
A barba cresce, e cresce a voz armada
descendo pelos muros tão tranquila;
tão tranquila que já nem desespera
de ser apenas voz, não uma guerra.
Quiseram pôr-me inteiro numa ficha.
Não há papel que conte a minha vida.
Mais que estes versos, esta mão estendida
por sobre os muros só de medo e pedra.
2
Quando saíres, amigo, não me esqueças.
Fico à espera da tua novidade.
Olha bem que farás da liberdade:
quando saíres, amigo, não me esqueças.
Quero mais fazimento que promessas.
São de prata os enganos da cidade
com que outros sujeitam a vontade.
Não me esqueças, amigo, não me esqueças."
1966
quinta-feira, 4 de janeiro de 2024
quarta-feira, 3 de janeiro de 2024
quinta-feira, 14 de dezembro de 2023
25 de Abril, 25 poemas
As bibliotecas do Agrupamento António Nobre deram início, no dia 13 de
dezembro, na Escola Secundária, a mais uma iniciativa poética, que está a
acontecer também nas escolas básicas da Areosa e Nicolau Nasoni, com a
colaboração do professor António Domingos.
Respondendo ao desafio lançado pelo Grupo Disciplinar de História, no âmbito da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, todas as semanas será divulgado um poema que tenha por tema a liberdade. Serão ao todo vinte e cinco poemas, e o primeiro foi “Ar livre” de Miguel Torga.
As turmas tiveram a visita inesperada do professor, que, depois de, sem aviso prévio, ler o referido poema, fez uma breve apresentação do projeto alertando para a necessidade de não deixar esquecer a importância do acontecimento histórico, sem o qual uma iniciativa como esta não seria possível…
"Ar livre
Ar livre, que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarela!
Ar livre, digo-vos eu!
Ou estamos nalgum museu
De manequins de cartão?
Abaixo! E ninguém se importe!
Antes o caos que a morte...
De par em par, pois então?!
Ar livre! Correntes de ar
Por toda a casa empestada!
(Vendavais na terra inteira,
A própria dor arejada,
- E nós nesta borralheira
De estufa calafetada!)
Ar livre! Que ninguém canta
Com a corda na garganta,
Tolhido da inspiração!
Ar livre, como se tem
Fora do ventre da mãe
Desligado do cordão!
Ar livre, sem restrições!
Ou há pulmões,
Ou não há!
Fechem as outras riquezas,
Mas tenham fartas as mesas
Do ar que a vida nos dá!"
Miguel Torga, Cântico do Homem, 1950